quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sem hora

Imagem sem indicação de autoria.


O poema chegou-me pronto, vermelho
Trazia um brilho no olhar
E nos amamos, tocados
Pela fúria do instante

Lou Vilela


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Crisântemos

Chrysanthemum coronarium


I
Nos anos em que somos rendidos
Depositamos nas gavetas os retalhos
Histórias alfinetadas
Colchas artesanais
O cetim das causas perdidas

II
Se a alma está de luto
A vida perde momentaneamente o sentido
Lembro-me de sempre querer acordar

III
Quando o vermelho se esvai
A escrita embrutece
Perpetua a faca
E o corte profundo
Na garganta

IV
Mas o sol pontualmente cumpre o seu papel
Seca o tempo de ausências

Lou Vilela

domingo, 28 de outubro de 2012

Das pedras




houve a inquietação, o paradigma
os senhores de si, de mim
tomos – tombados
nas esquinas
pedras que ruminavam latim

Lou Vilela


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Retrô



A experiência é o nome que damos aos nossos erros.

(Oscar Wilde)



há dias, tudo é perto, urgente
calço as minhas luvas
do tempo 
um apelo
retrô 
visor

Lou Vilela

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Psique



quando a percebi
cercania, (es)paço
tudo mudou

o investido, não-dito
soube-se corpo
e alma

alimentamos Saturno

Lou Vilela

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poesia a mar aberto




Ela alimentava o meu vício
: eu insistia, insistia.
Mal-acostumado, embriagado
repetia-me – um fraco, apaixonado.

Para tê-la em meus braços,
sentia o ópio, pulsava o caos,
vasculhava instantes,
amor sem igual.

Já não importava pagar, ou ser pago;
o risível, o onanismo dos troncos
às copas das árvores.

A louca forjava-me 
atitude, possibilidades
: eu insistia!

Lou Vilela

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dimensões do silêncio

Arte: David Ho


que mistérios tento desvendar
na pedra silêncio?
sob uma fragilidade de dentes
mastigo seu corpo.

Lou Vilela

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O rio que sou



Cada palavra um visgo, uma ponte 
neste Capibaribe de quimeras.

Lou Vilela



* Capibaribe vem da língua tupi e significa rio das Capivaras ou dos porcos selvagens. O Capibaribe teve grande contribuição para o desenvolvimento sócioeconômico do Estado de Pernambuco e do Nordeste. Para mais informações, clique aqui.
** Imagem: Pontes da cidade do Recife, registro Sistema Jornal do Comércio de Comunicação.

sábado, 6 de outubro de 2012

Tarde gris


Juan Gris, Self portrait, 1912. 


não me tomes por triste quando relato
o meu, o teu -- o nosso cansaço
entrecortado
animosidade gutural

não me tomes por triste

só poeira, olhar alérgico
descompasso
trans.formação

não, não me tomes por triste

cada veio, cada rasgo provém
de um tempo que esfola
e abriga

Lou Vilela


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Último poema



este é meu último poema
[todos potencialmente o são]
fica o ranço
dias de chagas
o que haja
até uma nova floração
este é meu derradeiro poema

Lou Vilela

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Linhas da metrópole - cena I




Uma via marginal sob a mira.
A cidade ensandecida 
Troca bala, perdida
Mapeia o sangue coagulado;
Investiga, finca o la(u)do.
Sabemo-nos! –- culpados,
Uma veia (cor)rompida.

Lou Vilela

sábado, 22 de setembro de 2012

Poema sem título VI







é preciso um tanto
de espaço, de espanto,
um silêncio que comporte
todas as línguas.

Lou Vilela











Boas-novas



Estou na GERMINA - Revista de Literatura e Arte e na coletânea Sabiás e Exílios.
 Clique nas imagens para acessar.







domingo, 16 de setembro de 2012

Poesia

Acervo pessoal.
observar a nau que, partida 
em verso,
empresta sentido ao mundo.

Lou Vilela

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Poema sem título V

Salvador Dali


arrebatou-lhe o blues
e o olhar primeiro
cravado
além do pêndulo.

onde havia o mar
e os naufrágios da urgência.

Lou Vilela

sábado, 8 de setembro de 2012

Papel machê




estes corredores são povoados
(des)mascarados fantasmas
lâminas d’água
sob folhas de papel

Lou Vilela

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Rua da infância, s/n

Michelangelo Marson 

perante meus olhos
a rua da infância encolheu
tudo tornou-se tão palpável
até o pó das estrelas

Lou Vilela

* Pó de estrelas, um outro olhar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ser mão


no silêncio de uma página
um espaço que nos caiba
feito cria, feito casa
[impossível, improvável?]
(s)em perdão:
porque desafiamos o tempo.

Lou Vilela

sábado, 25 de agosto de 2012

Temporal


Um passo-quase, arrastado
Uma memória carcomida
Um alvo em movimento

Lou Vilela

domingo, 19 de agosto de 2012

Implume

Se eu lembrasse de outros tempos
das épocas em que aqui estive
dos castelos ancestrais
talvez me fosse possível
tocar alguns sinos a mais
julgar esta fome: banal.

Entretanto, no paço inverso
premido
típico
complexo
pululo, sou quase!  instante;
metáfora de manguezal.

Lou Vilela


"Manguezal, também chamado de mangue ou mangal, é um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, uma zona úmida característica de regiões tropicais e subtropicaisAssociado às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa, está sujeito ao regime das marés, sendo dominado por espécies vegetais típicas, às quais se associam outros componentes vegetais e animais". Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Manguezal>. Acesso em: 19/08/12.

sábado, 11 de agosto de 2012

A matemática das partes



I
Fazia algum sentido
como partes se queriam
como um todo já cansado
eram partes em agonia.

II
Não sabiam ser as partes
o todo que prenuncia
a terra que dá a vida
a vida que se queria.

III
Uma parte noutra parte
muitas vezes se perdia
o que pintava era arte
reentrância, filosofia.

Lou Vilela

* Imagem Fátima Queiroz.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Diário de uma notívaga III







dividia o tempo em luas
no lastro da madrugada
forjava a redenção

Lou Vilela





* Imagem de arquivo pessoal.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Imperativo


a_ponta de um lápis
elabora o caminho!

Lou Vilela


domingo, 29 de julho de 2012

Pensamentos e arredores

tentava desvendar aquela imagem
olhos fundos, um riso quase alegre
navalha e carne entre as gentes.

gostava de acompanhar seus passos
nas manhãs de inverno
dividíamos a fome das esquinas
sem aquecedores,

chafurdávamos o limo
exorcismávamos o ranço
outorgávamos às horas
estranhos frascos e perfumes.

Lou Vilela

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Um toque de Midas

O toque do Midas posteres by Peter Sharpe

Portanto, na vida assim refaço-me:
escrevo sob as brumas o meu cansaço,
alinho pensamento aos braços meus,
há dias de olvido - sabe Deus!

As mãos que ora(m) se enlaçam
traduzem, à Midas, os percalços,
poiesis em laudas 
 sol maior, 
matéria transformada em rigor:

Cheiro de cancro vira pó,
reluz no mar a areia fina
de tantos, compõe-se uma mina.

Paciente, amparo-me no infinito.
Daí o meu jogo preferido:
poetizar o que me afoga.

Lou Vilela



* "Dizem que Midas, ao se abaixar para colher a água na margem do rio, tocou na areia com as mãos e que, por isso, ainda hoje, o rio Pactolo corre por sobre um leito de areias douradas." Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Midas>. Acesso em 05 de jul. 2012.