terça-feira, 7 de julho de 2015

Bacante

embriaga-te, pois!
eis o enigma:
a vida é breve;
a sede, tamanha.

Lou Vilela


* Um dos poeminhas escolhidos para publicação no Livro da Tribo - edição 2016/2017. Felicidade imensa participar desse projeto que tanto admiro, ao lado de muita gente querida!

sábado, 21 de março de 2015

balada para o amor II

inventa-se
em todo instante
em outros passos
entre  amantes
entre mistérios
em alguns brinquedos
em si em vão

atreve-se
em cadafalso
em algum segredo
entre  abraços
entre seus medos
em muitos credos
em sol em dó

deleita-se
em carne viva
em pesponteio
entre meus lábios
entre seus dedos
em contradança
em mi(m) –- maior

lou vilela

sábado, 14 de março de 2015

Deslizes

aos sábados, escrevia àquela moça
: lupa verde, absinto, um bem querer
mal sabiam rijos dedos calejados
deslizes de aninhar e amanhecer

todavia, empena-se orgulho
por tal magia florescer
chão que arde, sol ferino, reluzente
profunda vontade de chover

Lou Vilela

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Codinome Bouganville

o conflito entre alma e corpo
soubemos: ele não resistirá

como se resistíssemos nós, os não aca[l]mados 
como se não morrêssemos aos poucos 
a cada pílula
de uma vida pretensiosa

Lou Vilela

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Bacante II

ficou aquela sensação
a de sentir na garganta
o travo, a tez, sua ranhura
um último gole–poema
nu[m]a noite sem mesuras

Lou Vilela

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Balada para o amor

começasse assim
um quase
bem querer
e o tempo amalgamasse
nossas vidas

Lou Vilela


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Poema de aproximação

alegra tamanha transparência
daquilo que não cabe e reflete
poesia

alegra o que toca
na passagem do olho
e compõe a alma

a lucidez da língua a força
o signo a porcelana a boca
semiaberta essa flor
que sangra
e fere

Lou Vilela

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Engenho Santana

o pensamento sopra sem medida
feroz, em riste, vento a galopar

assombro, horizonte, seus bichos
: mulheres e homens partidos 
produtos de um outro lugar

sabem-se fome, espanto, sonhos caudalosos
em plácida mina d'água pra refrescar
buscam sinais, toques, sons do campo

nu[m]a terra de se plantar em canto 
vida que se colhe, poesia que não se perde
algo latente que insiste enramar

Lou Vilela

sábado, 31 de janeiro de 2015

Todas as falas

éramos de início todas as falas
até transbordarmos -- essencialmente pele
então fomos mais, lugar inabitado

ouvimos: “o mundo acabará”
fát[u]o, o nosso acabou:
vontade, êxtase, silêncio

Lou Vilela


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Nua

a lua entre aspas
vagueia pelas ruas
copula acha graça
afronta sem mesuras
mistura toda a raça

Lou Vilela

sábado, 3 de janeiro de 2015

Signos

um céu
cem sentidos
entre nós

Lou Vilela

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Temporais do absurdo II

os deuses agitados de rancor e saliva
surtam, rumo à justiça, selam as mãos
sabem-se trevas

o ciclo não se rompe
a sociedade vai à missa
o Deus emana suas lágrimas 

banha-se, mais uma vez, a criação

Lou Vilela


sábado, 13 de dezembro de 2014

sábado, 1 de novembro de 2014

Adélia

em toda via haverá sacrifício
possível perdão
linhas tênues, limites

os deuses imperfeitos somos nós
consciências blindadas 
a história, o pecado

Deus não segrega!

observa-nos o amor e a caridade

Lou Vilela



sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Mal de são


Que a noite silencie o grito,
refaça o sonho -- túmulos abertos.

Livres, despojados de nós,
sejamos, enfim!

Lou Vilela

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Menino carvoeiro

"Menino Carvoeiro" - Óleo sobre tela 50 x 60 cm - Osmar Bassi


O rosto carvoeiro escondido denuncia espanto;
os dentes, todas as alegrias infantis.

Gigantes, essas mãos desacostumadas
ainda sonham...

Lou Vilela

sábado, 23 de agosto de 2014

Os dias e as cores


amarela a cor que somei
desbota todos os dias

amarela a cor dos sonhos
dos dentes das farpas das fotografias

amarela o jornal quando exala o suor
das mesmas notícias

amarela o tempo, a têmpora muda
o carrasco que [a]trai e destrói

amarela o que não se aprende
o que não pulsa
o que aparentemente gira

Lou Vilela




sábado, 16 de agosto de 2014

Tormenta


conheci teu [a]mar, tua calmaria
teus altos [des]montes,
tua muda estação

tua boca, teus olhos, meus anseios
tua fala, tua foda, nosso óbvio
tesão

cometi o que não deu
abismo in confesso
pra reter

Lou Vilela

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Numa noite sem mesuras

pousava diante do fogo, insistia 
buscava  aquela sensação
sentir na garganta o travo  ranhura
mais um gole-poema

tudo que é belo perpassa – infinito
viola a tez, o silêncio
jorra! entre a razão e o peito

Lou Vilela

sábado, 2 de agosto de 2014

Olhos arrebatados pelo vento

hoje, choro o meu cansaço
exponho a ferrugem dos meus dentes
acendo um cigarro imaginário
posso, desde que integre o tempo

escapa-me a noção de ser-espaço
onde começo, onde termino
onde refaço-me
olhos arrebatados pelo vento

planto a minha aorta em apartamento
cubículos urbanos, somos guetos
estreitos, os corredores vão fechando
funil, filtros d’águas e folguedos

mas, se porventura, souber princípio
decerto toda graça escoará
por entre dedos, os nossos, nalgum lugar
elástico, universal, capitular


Lou Vilela

sábado, 26 de julho de 2014

Memória


lembro-me do azul
da irremediável alegria
da glória dos inocentes

não havia palidez
não havia rasgos 
não, não havia

havia vontades, [des]cobertas
erros, matizes, portais
nas papilas gustativas, o sumo
: sabor inaugural

Lou Vilela

sábado, 19 de julho de 2014

Escambos e frissons


I
Ora sépia, ora giz
a folha concede-se face
escancarada ausência.

II
Em vermelho, a poesia
propósito, latência
um tempo re(n)al.

III
Segue rápido, septado
um corpo ardido, traçado
décor marginal.

IV
Tanto há –- caminhos e passos
(in)oportunas partidas
falanges de aço.

Lou Vilela




quarta-feira, 16 de julho de 2014

Diário de uma notívaga IV

seguir
[não mais postergar]
expandir o silêncio

soerguer na matilha da noite
a paz necessária

Lou Vilela

sábado, 12 de julho de 2014

Germinar

rezava para espantar a ignorância
perguntava-se todo dia:  até onde?

costurava ficções
demarcava suas páginas
arrematava sins, senões
perguntava-se:  até quando?

bebia os mistérios

Lou Vilela

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Cores


As cores seriam inúteis, amada
não houvesse olhos de chuva
renitência, mar bravio.

Tudo o mais de pura inutilidade
não houvesse nós
tecidos rumo ao centro

: redemoinhos.

Lou Vilela