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Hercília Fernandes, Poetisa, Professora, Doutoranda e Mestra em Educação, na linha de pesquisa “Cultura e História da Educação” (PPGEd / UFRN) me ofertou um significativo presente por ocasião do meu aniversário: uma análise crítica sobre o trabalho literário que desenvolvo. Senti-me feliz e lisonjeada com tamanho gesto.
HF frequentemente nos brinda com trabalhos de excelente qualidade e, como se não bastasse os diversos ofícios, ainda consegue se dedicar com entusiasmo à revelação de talentos na blogosfera.
Pelo exposto, gostaria de compartilhar com todos os leitores do Nudez Poética mais um trabalho, dentre tantos outros que merecem a nossa admiração, dessa escritora. Passemos à análise de Hercília.
por Hercília Fernandes in Maria Clara: simplesmente poesia.
LOU VILELA, A MENSAGEIRA DO VENTO

Hoje, 14 de março de 2010, é um dia especial para todos aqueles que se dedicam à atividade poética. Para nós, integrantes do Maria Clara: simples mente poesia, o 14 de março contém um sabor memorável, comporta duplamente poèisis: além de ser o "dia nacional da poesia", é a "data natalícia da querida poetisa Lou Vilela".
Lou Vilela, natalense de origem e residente na cidade do Recife-PE, é poetisa de grande sensibilidade imagística e habilidade semântica. Posta, regularmente, poemas e breves textos em prosa em seu espaço virtual Nudez poética, direcionado à acepção literária adulta. E desenvolve, na Blogosfera, um trabalho voltado ao leitor infanto-juvenil, especialmente às crianças, no blog Ritmos e rimas. Vejamos alguns traços de sua poesia.
Uma das qualidades da voz poética de Lou Vilela é a expansão - em versos oníricos, breves e musicais -, de temáticas profundas e ambíguas. A poeta, fazendo da “pena moinho”, anuncia/denuncia a vida das "gentes esquecidas” espalhadas à margem do tecido social. Nordestinos, mulheres, crianças são protagonistas em seus versos, oferece voz a grupos considerados “minorias”; muitas vezes expostos a múltiplas violências nas práticas sociais cotidianas.
Essas considerações podem ser apreciadas em os versos de Simbiose e Um conto sem réis. Leiamos os dois poemas:
em terra seca
de ninguém
sou nada
imprescindo d’água
e na face inundada
provo das gentes
meu sertão..., mal cabe na garganta:
as gentes, escorrem-me pelos dedos
(in: Simbiose).
***
Naquele pardieiro
ecos paredes rachadas
de risos de bocas
esfomeadas
vazamentos incontidos
profundo (a)mar
(in: Um conto sem réis).
Os poemas de Lou Vilela, além de profundidade temática, contêm intensidade lírica e apresentam belas imagens femininas associadas a contextualizações, metalinguagens, ambiguidades e sinestesias várias. Onde transbordam, em versos sugestivos e sensuais, frescores que remetem ao atordoamento e, por isso, alagam/alargam sentidos. Sensações que se podem experimentar a partir de os versos de Reflexos:
é esse teu olhar invasivo
que atordoa...
essa tua tatuagem olfativa
que embriaga...
tuas unhas que marcam,
tua saliva que cura.
são os teus trejeitos que ins.piro,
os teus trajetos que invado
entre mentes dentes dedos e falo.
enquanto transbordas
me alago.
(in: Reflexos).
Por meio do jogo e do ludismo, da imagística, da simplicidade na linguagem, da rima e figuras sonoras, a poetisa expande valores que se apresentam coerentes a um leitor em formação; e convida a criança a adentrar no mundo das letras, da imaginação e a construir conceitos.
Através do sentir/fazer poético, Lou Vilela propõe jogos de linguagem e desafios semânticos que contribuem para inquietar e remeter os leitores à plurissignificação textual, promovendo a construção de sentidos através do desvendar de pistas, combinações, sugestões de signos e imagens.
A sua poesia infantil oferece espaço para a livre significação, o que demonstra o respeito da autora às especificidades e à imaginação da criança; apresentando-lhes temas que, sem imposições moralísticas, portam consistência nos conteúdos de mensagem que, poeticamente, levam à reflexão das coisas existentes na natureza física e social-humana.
Leiamos mais dois poemas de Lou Vilela. Neles, a poetisa sopra belas imagens ligadas à natureza e se apresenta à criança - também ao leitor adulto - como "mensageira do vento"; anunciando a função da poesia e do poeta. E, posteriormente, convida o leitor a pensar a morte e a perda, valores que perpassam a vida humana:
vem pulsar uma viola sob
noite enluarada,
ouvir grilos, vagar lume?
há dias em que até as pedras
cantam poemas: a natureza
explode em exuberância!
e o poeta (in)venta
: faz da pena um moinho.
............................................a Gabriel, in memoriam
O vovô de Iago,
Mateus e Aninha
fechou os olhinhos,
esqueceu a idade:
partiu sem adeus,
sem mochila...
na hora de fazer
traquinagem.
No céu uma estrela
que brilha e acena.
Sorrindo, encena
deixando saudades.
[1] Texto escrito por Hercília Fernandes.
[2] Arte: Catavento, de Luciana Teruz (Brasil, 1961).
[3] Poemas extraídos dos blogs da autora: Nudez poética e Ritmos e rimas.
[4] Foto: Lou Vilela.
[5] Texto revisitado em 16 de março de 2010.
[5] Texto revisitado em 16 de março de 2010.
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