sábado, 23 de fevereiro de 2013

Direção

 
Graça Martins, “Borderline Case”, 1992
acrílico sobre tela, 75 x 120 cm


a vida arde, amor
enquanto compõem os cinzas
reciclam as manhãs de inverno

houvesse seta
singraria espaços
à procura do alvo
despedaçados silêncios.

Lou Vilela

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Carrossel

Guido Boletti 

o tempo. remoído
desselará os corcéis

todo vento, todo (a)mar
sob a brandura do instante
nossas pálpebras iluminadas.

Lou Vilela

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O que há



Tema: "moda sustentável". Foto: Renato Filho.
Locação: Baía dos Porcos / Mar de Dentro – Fernando de Noronha / PE




noronha é assim: há mares
eu já nem sequer me reconheço
naquele mar de dentro

treze anos se passaram
ainda há pulso. mas há também uma tal
realidade que me engole

Lou Vilela

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Flores de sins

Imagem disponível em: open4group.com.


seguiria tons
partiria assim
blusa branca
calça jeans
sobretudo nós
asas de avião
flores de sins

Lou Vilela



Desejo a todos um Feliz Ano Novo!!


___________________________________________
Curiosidade:
1. O azul "simboliza a lealdade, a fidelidade, a personalidade e sutileza. Simboliza também o ideal e o sonho".
2. "O branco transmite paz, de calma, de pureza. Também está associado ao frio e à limpeza".
Informações complementares em: http://www.significadodascores.com.br/



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Boas Festas!



Agradeço o carinho de todos que me acompanham!
Desejo-lhes um Feliz Natal e um Ano Novo de muita paz, saúde e realizações! 



Imagem: Jô Oliveira.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Construções



onde não existíamos
éramos nós

[pudesse recriar o tempo
a passos lentos
tingir a_corda
fora e dentro]

espanto

cílios, sobrancelhas
apelos

onde não existimos
somos múltiplos
possibilidades

Lou Vilela




sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Parcas e nuvens



aqueles olhos sorriam
(des)fiavam suas histórias
o cerne de amores e outonos
vermelhos

aqueles olhos sorriam
singravam minúcias
arremates de rendas, sianinhas
parcas e nuvens

aqueles olhos...
farol e mar
reflexos de longes

Lou Vilela

domingo, 2 de dezembro de 2012

Cabides de quimeras

 The dream main - Tamara de Lempicka

das horas que (a)guardo
uma delicadeza nada estéril

na seda, o talhe, a mácula
nas mãos, toque e mistério
explosão de sinais

Lou Vilela

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O poeta e a musa




não me coube perto [sedento]
não me soube mar [em fúria]
era parte, era pulso
era musa

Lou Vilela

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Buscar o invisível

Imagem Camis Mendes


as melhores paisagens surgem
de soslaio
quando não há espera.

Lou Vilela

sábado, 17 de novembro de 2012

Hoje


Para Assis Freitas e Daniela Delias*


pensei em flores
a mim representam
quando não posso ser asa
rota de colisão
visgo, tátil, metaforizada
cá estou, orquídea, lilases
desejo vingado em palmas de mãos

Lou Vilela

* Pelos recentes lançamentos dos livros:

 "Boneca Russa em Casa de Silêncios", da poeta Daniela Delias;  
"O ano que Fidel foi excomungado", do poeta Assis Freitas.



Tátil


adivinhava o tom
subtraído silêncio
onde mãos por deslize
compunham o gozo

Lou Vilela

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Alvo

Imagem da internet, sem indicação de autoria.


tão feroz o olhar que atravessa
e conclui.

somos! onde nem mesmo as trincheiras
anteparam.

seguimos, apesar da mira.

Lou Vilela

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sertão in.verso



Mulher de chita, fotografia e gravura digital de Lilian Goulart/2010


Era tanta vida ali guardada
Aos poucos em silêncio trans.bordava
A menina de memória refazia-se
Em soluços que o vento sequestrava.

Fez da vida germinada em sua gente
Um jardim fecundo abastança
Irrigou o Ser-tão cantou Gonzaga
Catou seixo comeu palma ordenhou cabra.

Colheu pé de menino em terra seca
Fez do sol uma clave em sua alma
Do luar um manto puro simples
Do poema um latão cheio de água.

Aprendera desde cedo que a poesia
Abriria a porteira de sua casa
Enfeitou-se de chita e alpercatas
Seguiu a galope em suas asas.

Lou Vilela

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sem hora

Imagem sem indicação de autoria.


O poema chegou-me pronto, vermelho
Trazia um brilho no olhar
E nos amamos, tocados
Pela fúria do instante

Lou Vilela


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Crisântemos

Chrysanthemum coronarium


I
Nos anos em que somos rendidos
Depositamos nas gavetas os retalhos
Histórias alfinetadas
Colchas artesanais
O cetim das causas perdidas

II
Se a alma está de luto
A vida perde momentaneamente o sentido
Lembro-me de sempre querer acordar

III
Quando o vermelho se esvai
A escrita embrutece
Perpetua a faca
E o corte profundo
Na garganta

IV
Mas o sol pontualmente cumpre o seu papel
Seca o tempo de ausências

Lou Vilela

domingo, 28 de outubro de 2012

Das pedras




houve a inquietação, o paradigma
os senhores de si, de mim
tomos – tombados
nas esquinas
pedras que ruminavam latim

Lou Vilela


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Retrô



A experiência é o nome que damos aos nossos erros.

(Oscar Wilde)



há dias, tudo é perto, urgente
calço as minhas luvas
do tempo 
um apelo
retrô 
visor

Lou Vilela

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Psique



quando a percebi
cercania, (es)paço
tudo mudou

o investido, não-dito
soube-se corpo
e alma

alimentamos Saturno

Lou Vilela

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poesia a mar aberto




Ela alimentava o meu vício
: eu insistia, insistia.
Mal-acostumado, embriagado
repetia-me – um fraco, apaixonado.

Para tê-la em meus braços,
sentia o ópio, pulsava o caos,
vasculhava instantes,
amor sem igual.

Já não importava pagar, ou ser pago;
o risível, o onanismo dos troncos
às copas das árvores.

A louca forjava-me 
atitude, possibilidades
: eu insistia!

Lou Vilela

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dimensões do silêncio

Arte: David Ho


que mistérios tento desvendar
na pedra silêncio?
sob uma fragilidade de dentes
mastigo seu corpo.

Lou Vilela

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O rio que sou



Cada palavra um visgo, uma ponte 
neste Capibaribe de quimeras.

Lou Vilela



* Capibaribe vem da língua tupi e significa rio das Capivaras ou dos porcos selvagens. O Capibaribe teve grande contribuição para o desenvolvimento sócioeconômico do Estado de Pernambuco e do Nordeste. Para mais informações, clique aqui.
** Imagem: Pontes da cidade do Recife, registro Sistema Jornal do Comércio de Comunicação.

sábado, 6 de outubro de 2012

Tarde gris


Juan Gris, Self portrait, 1912. 


não me tomes por triste quando relato
o meu, o teu -- o nosso cansaço
entrecortado
animosidade gutural

não me tomes por triste

só poeira, olhar alérgico
descompasso
trans.formação

não, não me tomes por triste

cada veio, cada rasgo provém
de um tempo que esfola
e abriga

Lou Vilela


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Último poema



este é meu último poema
[todos potencialmente o são]
fica o ranço
dias de chagas
o que haja
até uma nova floração
este é meu derradeiro poema

Lou Vilela

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Linhas da metrópole - cena I




Uma via marginal sob a mira.
A cidade ensandecida 
Troca bala, perdida
Mapeia o sangue coagulado;
Investiga, finca o la(u)do.
Sabemo-nos! –- culpados,
Uma veia (cor)rompida.

Lou Vilela