sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Poema sem título VIII


Multipliquei-me para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo.

(Álvaro de Campos)

bela e terrível
aquela expressão de assombro
invasão das camadas de incêndio

tudo era pouco, rude
um pulsar alegórico
de ausências

Lou Vilela

terça-feira, 30 de julho de 2013

Dos cantares



canto, pois, à despedida
em versos inexatos, em vão
obscuro, canto!
porque o momento é tênue
e a vida, sábia
sabia
sabiá

Lou Vilela



* Mais um poeminha que estará no Livro da Tribo, edição 2014/2015. 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Bordado

À Socorro Vilela, em memória.

Foto de arquivo pessoal.


teu gesto inacabado
riscou-me, vazio inclemente
até que a morte nos cinja ponto a ponto
celeste, azul puro, expoente

Lou Vilela


sábado, 29 de junho de 2013

Poema sem título VII



Pensava na opulência dos dias laranjas
Em meio aos cinzas
No ir e vir, na urgência
No desmantelo social

A cor em sobressalto

Alerta nada convencional

Pensava nos laranjas

No planalto endossado
Adoçado, lubrificado
Comendo a comoção nacional

E alguma gente que vai às ruas

Que vai às redes, mete a boca
Panfleta, esbraveja, mas não demove
(in)decisão, paletó, bicho-de-pé.

Lou Vilela



* Um dos poeminhas que sairá no Livro da Tribo, edição 2014/2015. 

domingo, 9 de junho de 2013

Felicidade gutural


Pierre Bonnard 1941 Le Nu Sombre
Pierre Bonnard 1941 Le Nu Sombre



bem quis
foi metáfora
impressionismo, demão
alargado sentido

asa

entre a.corda e o pescoço

Lou Vilela


quinta-feira, 30 de maio de 2013

Relógio

Louise Bourgeois


era quase hora
saberia do canto, da robustez do diafragma
do espaço ocupado por coisas inúteis
dos segredos de cofre
em dedos de ébano e marfim

era quase hora
a palidez tamanha
na possibilidade corpulenta de um sim

o relógio desgastaria a máscara
resistência

era quase hora

Lou Vilela

sábado, 6 de abril de 2013

A dança das pedras

Trabalho do artista plástico Marcantonio*

à parte o silêncio, é sabido
as pedras compõem
sob ciclos
o movimento

Lou Vilela


*  "Exposição de artes plásticas ocorrida no Centro Cultural Correios no Rio de Janeiro, entre Maio e Abril de 2009. Trata-se de um trabalho do artista plástico Marcantonio, desenvolvido a partir da gravura "Melancolia" do artista alemão Albrecht Durer, que viveu no século XVI."

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Linhas da metrópole - cena II

Imagem de arquivo pessoal


o cão aproveita tempo ameno
fecha os olhos, adormece
não se percebe sereno

o homem observa, tem a posse
do cão, do espaço, do 'close'
e almeja bem maior

passa o tempo, a cena não acomoda
o cão, impassível, sai -- levanta
toma água, fareja, morde a calma
lambe, resoluto, aquela cara

Lou Vilela

terça-feira, 2 de abril de 2013

A_cor_da poesia

Vie Dunn-Harr


nos dias azuis pintavam
alguns retratos
rugas (im)perfeições
solas de sapatos
tudo em cores.

Lou Vilela

quinta-feira, 28 de março de 2013

Prelúdio para a salvação III

Graça Martins

vestiu aquelas cores
arrebatados verões
entre o nu e o parapeito
ousou, pistilo e nuvem

Lou Vilela

domingo, 3 de março de 2013

Sob a última camada de silêncio

Serhiy Reznichenko


pode ser que um dia me encontres
sob a última camada de silêncio
legitimes nossas feras
gozos e signos, amor

persigo as luas
alguns versos
um copo cheio, refratário
sede, espanto

o que estranho por volátil
em meus dedos
maculada, transitória
liberdade

Lou Vilela

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Direção

 
Graça Martins, “Borderline Case”, 1992
acrílico sobre tela, 75 x 120 cm


a vida arde, amor
enquanto compõem os cinzas
reciclam as manhãs de inverno

houvesse seta
singraria espaços
à procura do alvo
despedaçados silêncios.

Lou Vilela

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Carrossel

Guido Boletti 

o tempo. remoído
desselará os corcéis

todo vento, todo (a)mar
sob a brandura do instante
nossas pálpebras iluminadas.

Lou Vilela

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O que há



Tema: "moda sustentável". Foto: Renato Filho.
Locação: Baía dos Porcos / Mar de Dentro – Fernando de Noronha / PE




noronha é assim: há mares
eu já nem sequer me reconheço
naquele mar de dentro

treze anos se passaram
ainda há pulso. mas há também uma tal
realidade que me engole

Lou Vilela

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Flores de sins

Imagem disponível em: open4group.com.


seguiria tons
partiria assim
blusa branca
calça jeans
sobretudo nós
asas de avião
flores de sins

Lou Vilela



Desejo a todos um Feliz Ano Novo!!


___________________________________________
Curiosidade:
1. O azul "simboliza a lealdade, a fidelidade, a personalidade e sutileza. Simboliza também o ideal e o sonho".
2. "O branco transmite paz, de calma, de pureza. Também está associado ao frio e à limpeza".
Informações complementares em: http://www.significadodascores.com.br/



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Boas Festas!



Agradeço o carinho de todos que me acompanham!
Desejo-lhes um Feliz Natal e um Ano Novo de muita paz, saúde e realizações! 



Imagem: Jô Oliveira.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Construções



onde não existíamos
éramos nós

[pudesse recriar o tempo
a passos lentos
tingir a_corda
fora e dentro]

espanto

cílios, sobrancelhas
apelos

onde não existimos
somos múltiplos
possibilidades

Lou Vilela




sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Parcas e nuvens



aqueles olhos sorriam
(des)fiavam suas histórias
o cerne de amores e outonos
vermelhos

aqueles olhos sorriam
singravam minúcias
arremates de rendas, sianinhas
parcas e nuvens

aqueles olhos...
farol e mar
reflexos de longes

Lou Vilela

domingo, 2 de dezembro de 2012

Cabides de quimeras

 The dream main - Tamara de Lempicka

das horas que (a)guardo
uma delicadeza nada estéril

na seda, o talhe, a mácula
nas mãos, toque e mistério
explosão de sinais

Lou Vilela

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O poeta e a musa




não me coube perto [sedento]
não me soube mar [em fúria]
era parte, era pulso
era musa

Lou Vilela

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Buscar o invisível

Imagem Camis Mendes


as melhores paisagens surgem
de soslaio
quando não há espera.

Lou Vilela

sábado, 17 de novembro de 2012

Hoje


Para Assis Freitas e Daniela Delias*


pensei em flores
a mim representam
quando não posso ser asa
rota de colisão
visgo, tátil, metaforizada
cá estou, orquídea, lilases
desejo vingado em palmas de mãos

Lou Vilela

* Pelos recentes lançamentos dos livros:

 "Boneca Russa em Casa de Silêncios", da poeta Daniela Delias;  
"O ano que Fidel foi excomungado", do poeta Assis Freitas.



Tátil


adivinhava o tom
subtraído silêncio
onde mãos por deslize
compunham o gozo

Lou Vilela

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Alvo

Imagem da internet, sem indicação de autoria.


tão feroz o olhar que atravessa
e conclui.

somos! onde nem mesmo as trincheiras
anteparam.

seguimos, apesar da mira.

Lou Vilela

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sertão in.verso



Mulher de chita, fotografia e gravura digital de Lilian Goulart/2010


Era tanta vida ali guardada
Aos poucos em silêncio trans.bordava
A menina de memória refazia-se
Em soluços que o vento sequestrava.

Fez da vida germinada em sua gente
Um jardim fecundo abastança
Irrigou o Ser-tão cantou Gonzaga
Catou seixo comeu palma ordenhou cabra.

Colheu pé de menino em terra seca
Fez do sol uma clave em sua alma
Do luar um manto puro simples
Do poema um latão cheio de água.

Aprendera desde cedo que a poesia
Abriria a porteira de sua casa
Enfeitou-se de chita e alpercatas
Seguiu a galope em suas asas.

Lou Vilela