quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Poesia de sertanejo


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Não, nada sei de poesia
- métrica, rima ou irmão –

Sei a dor, a tristeza, a saudade...
alegria e amor também:
forjam minh’alma
sôfrega, trôpega, acanhada
cáustica
enamorada...

analfabeta de pai e mãe
vesga de parteira
: esta que vos fala


Lou Vilela

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Lobos

.

Sina enluarada
: uivos defloram
a madrugada
no gozo orvalhada


Lou Vilela

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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Poeira cósmica

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Ave, homem!
nave mundo
homem-ave

Lou Vilela


Ousadia do não

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Adeus à fantasia,
findou o carnaval!
Adeus aos beijos não dados
à pele não explorada
à flor orvalhada
(entre coxas, cerrada)
à dança lasciva
ao carro alegórico
à efêmera paixão...


Lou Vilela

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Filha de Baco

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Ébria e inconseqüente
lutei tempestades
bailei furacões
submergi, profundo oceano...
o resgatei no fundo de uma garrafa
meu tinto-seco amor


Lou Vilela

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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Escolhas

.

Vestiu a herança
sufocou os sonhos
desnudou-se de si

Con.tradições
ao som dos aplausos
o riso taciturno


Aos passos do tempo
viveu a vida
dos outros, herdada


Lágrimas vertidas
saudade muda
do que nunca foi


Lou Vilela

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“Casa das Musas”

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Para Maria-papel

Na ilha grega
surge a artista
explora com amor
sua bela cítara -
instrumento singular


Lou Vilela
.

Urgência de viver


.

Gostaria de aquietar-me um pouco...
Contemplar, refletir, extrair
de mim o melhor, ou o pior;
da vida, o que ela oferece;
do outro, suas possibilidades.
Às vezes, falta-me tempo:
a vida corre para acabar

- sina urbana.
Na urgência de viver
anestesio olhos e ouvidos,
os que alimentam minh’alma!
Com a boca cheia,
a alma vazia
vaga...
ou melhor, corre.
Esquece-se de si, da vida, do outro...
necessita sofregamente
chegar a lugar algum.



Lou Vilela

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Eu ignoto



No espelho, o reflexo:
o rosto que identifico,
a alma que nunca é a mesma.

Lou Vilela
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“Aeterna veritas” *

.

Na brincadeira da esquina
ela aparece, menina
começa a contar.

Fugidias, as crianças
correm em suas tranças
escondem-se n’algum lugar.

“Um, dois, três...
você, sua vez...”
aponta com o olhar.

Pelos cabelos
arrebatadas, as crianças
seguem a menina.

Lou Vilela


 
* Eterna verdade.
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Perdida-mente

.
canta à bala
embala o irmão
no berço de pedra


Lou Vilela

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Desconjugado pensar

.

Penso que penso, eu
Pensas que pensas, tu
Pensa que pensa, ele
Pensamos que pensamos, nós
Pensais que pensais, vós
Pensam que pensam, eles

A história retrata
O movimento das massas
Que pensam que pensam


Lou Vilela

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Das escolhas


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Sob pressão, ainda na fase de questionamentos, a terra é arada e semeada na busca da manutenção de uma cultura de subsistência. Após anos, alguns se mantêm cultivando tal qual o início, independentemente de realizações. Outros, ainda que em terra infértil, aprendem a fazer de sua labuta um estado onírico. Poucos, a partir das adversidades, arriscam-se a alternar o plantio; sem garantias, as escolhas serão produtos da agudeza do pensar e do sentir! 

Lou Vilela
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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Feliz Natal!


Prezados amigos e leitores,

O corre-corre muitas vezes não nos permite parar para celebrarmos as dádivas que recebemos de Deus! Aproveitemos então, o período natalino... é tempo de comemorar! Comemoremos a vida, a família, os amigos, as realizações, os nossos ideais...

O Natal representa o sentido da vida. Não nos esqueçamos de renascer sempre; a cada frustração, a cada passo mal dado, a cada queda no caminho... Renascer a partir da aprendizagem com os nossos erros; renascer melhores e fortalecidos!

Um Feliz Natal e um Ano Novo com muita paz, saúde, harmonia e realizações!!

Lou Vilela

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Roleta russa

.
Eu, ilha
temo a morte
numa quase-vida


Lou Vilela

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Com o eu em Marte


.
visto a camisa
como brisa
rumino arte


Lou Vilela

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Diversidades culturais

.

Impõem-lhe a burca
Extirpam-lhe prazer
Denominam-na mulher


Lou Vilela

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Fantasia de criança

.
Cadê o herói?
Ao alcance da mão -
Liga a TV e sonha...

Lou Vilela

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Grego,

.
O presente seduz...
Em linda embalagem,
máscara amalgamada.


Lou Vilela

.

Inversamente proporcional

.

Tique-taque, tique-taque...
limite ao corpo;
liberdade à mente.

Lou Vilela

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Mente

.
insubordinada
dissipa-se
da razão

Lou Vilela
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sábado, 20 de dezembro de 2008

Meu Sertão

.
naquela terra árida
jazia uma semente
regada quase sempre
à lágrima curtida

mal sabia eu
que no céu floria
em divina sintonia
flor de mandacaru

meu sertão, preso na garganta
enquanto dura a pena
pare versos

Lou Vilela
.

Canavial humano

.

Corpos queimam
como palhas secas
adoçando vidas


Lou Vilela

.

Bailarinas mundanas

.

Sexo pago
vida de pedra
domicílio sem esgoto


Lou Vilela

.


Torto urra

.
Burburinho
lula-lufa
torto bufa
cai os dentes

Povo rosa
rói dor
torto urra
nasce a nau

No porto
a_porta
Torto urra
“Pater noster
amem”

Lou Vilela
.

Renovação

.

As nuvens choram!
A natureza compõe
na terra molhada
o prelúdio da primavera

Lou Vilela

.




Implosão

.
A capa de verniz esconde o assombro:
silêncio! – diz a placa.
A lágrima que não verte sufoca,
o grito-mudo ecoa e a fortaleza implode.
O sorriso insosso tempera a carne em brasa.
Os outros são apenas os outros;
previsível!
Trinca o elo invisível.
O eu, em pé, treme.
E o tempo passa...


Lou Vilela

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Filosofica-mente


.
dura-mente linda
linda-mente pura
pura-mente crua
cruel-mente nua

Lou Vilela

.

Agonia

.

Ao raiar do dia

minha agonia

mascarada.


Quiçá, hoje se despeça?

tenho pressa

na saturação

de morrer.



Lou Vilela


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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Borboletra

.
Numa crisálida
Metamorfose
[em versos

Pupa em cores
Rompe o casulo
[íntimo reverso

Trêmulo segundo
Silêncio profundo
[explora uni_verso

Irrompe o mundo
Cata-vento
Inverso tempo
Pólen semeado
Amores roubados
Flores grávidas

Sem asas
Áridos dias
Sonhos-palavras
Úmidas agonias
Morte destinada
De doces alegorias

Descobre em seu vôo
As dores do mundo
A vil solidão
Efêmera, alada
Jaz concebendo
Sua doce ilusão
.................uma
....................d
...................o
....................c
.....................e
....................i
.....................l
.....................u
....................s
..................ã
..................o


Lou Vilela / Theresa Russo
30/10/08
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Canto de guerra

.
Quando a saudade aperta
o remédio é chorar
o peito fica mais leve
a alma põe-se a entoar
o canto dos guerreiros feridos
de uma história secular

Então, se achegue saudade
meus olhos já estão a chorar
faça de mim sua morada
pra minh’alma bradar
o canto dos guerreiros feridos
de uma história secular

Sou da linhagem dessa tribo
um dia, serei relembrada
quando outra alma entoar
na saudade que lhe aperta
o canto dos guerreiros feridos
de uma história secular

Lou Vilela
.

Do pó ao pó

.
Os cupins em festa
no tronco ressequido
mostrarão sua obra.

Antes, corroer, tornar pó
varrer aos quatro cantos
a ver o tronco
inflexível ao vento.


Lou Vilela

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sábado, 13 de dezembro de 2008

Poemas nus

.
teu sorriso endossa
minha rubrica
em poemas nus
quais não te esqueci

há momentos preferiria uma carranca:
economizaria letras e saudade

Lou Vilela
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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sonhar

.
aponta à porta
aporta a desilusão
no porto da esperança

Lou Vilela

.

Sina de poeta

.
Cerzir várias linhas
Arrematar com entrelinhas
Virar colcha de retalhos

Lou Vilela
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Amor geométrico

.

A partir de um ponto
- à luz da razão –
retas perpendiculares

Lou Vilela

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Loucura

.

o reverso do ser
nos palcos
da vida

Lou Vilela

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Inverno

.
Esvaem-se
sentimentos alagados...
Renovação!

Lou Vilela
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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Quadro realista

.



Sou pintor surrealista
– os sentidos, meus pincéis.

Para vê-lo florescer
virei quadro realista
vesti tintas pastéis
pintei-me paisagem amena
– paredes, teto, uma árvore
um lago de águas plácidas...

Fixei-me na parede
- vivo nela enquadrado.


Lou Vilela

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Inconformismo


.

Calo!
Engasgo
Cuspo
Verbo indomável

Singro!
Verte
Em letras
A minha impotência

Grito!
Irrompo
Surdez
Indesejada

Sinto!
Exponho
Concluo
Assino

Lou Vilela
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domingo, 30 de novembro de 2008

Damas da noite

Arte: Antônio Sem


Embriagadas
gozam em silêncio
letras dançarinas


Lou Vilela

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sábado, 29 de novembro de 2008

Desafinado

.



Desafinado
(Lou Vilela)

O passado ainda ecoa
em meus tímpanos:
sopra o velho sax
[sua carpideira]
lacrimejando um blues.


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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Lama de mel

.

dedo em riste
na própria lama
deflorou a folha
ejaculou versos
adormeceu em paz

Lou Vilela



.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

(dec)al dente

.
degustou
alho no olho
a indiferença

pediu bis


Lou Vilela

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Presença incômoda

.
Olhos que reverberam
O mistério do mar
Palco do encantamento

Ondas pujantes
Mergulho abissal
Em sentimentos rugosos

Janelas d’alma obscura
Verbo sem eco
Psique domada

Olhos que manipulam
Herméticos, sarcásticos
Ignotos, escrotos

Jazem incautos na lembrança
Guardiões do lume da paixão
Catalisadores da saudade

Lou Vilela
.

Pedágio

.
Cara ou coroa?
À luz,
como saber?
Escolhas –
pedágios do viver.

Lou Vilela
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domingo, 23 de novembro de 2008

Lembrança olfativa

.
Alquimia singular
Inebria, incita
Acaricia sem tocar

Finca n’alma
Presença lancinante
Outrora esquecida

Desejo incontido
Saudade fustigante
Lembrança olfativa

Lou Vilela
.

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sábado, 22 de novembro de 2008

Fugaz

.
dedilho teu corpo
meu desejo
no gozo, desperto
quero-te mais
cerro os olhos
(tentativa inútil)
o sonho
não se refaz 

Lou Vilela
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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Queda livre

Arte Theresa Russo



Do (para)peito, o grito
Jazem, esparramadas
Letras suicidas

Lou Vilela


Agradeço a Theresa Russo pelo "presente"!
Como o côncavo e o convexo, texto e imagem. A poesia representada com maestria pela artista.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Amor de poeta

.

A ausência suscita
o que passou
- ternas lembranças.


A presença inibe
- além das lembranças,
nada restou.


Na ausência presente
desnudo a nostalgia,
gozo em versos.


Na presença ausente
sou homem castrado
– bicho selvagem, encurralado.


Lou Vilela

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Fênices


lençóis em desalinho
corpos ladeados
sexos molhados
cinzas do desejo


Lou Vilela

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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Amor suicida

.
Perdi-me em sua dimensão,
sufoquei-me em minha pequenez,
desejei romper os grilhões...
o delírio: incensa_tez.

Na hora do adeus planejado,
inalei o cheiro da terra,
senti o toque do orvalho,
vesti-me verde com a relva.

Percebi o quanto a amo...
Decidi não antecipar a partida,
morrer aos poucos em seus braços
minha agridoce vida.

Lou Vilela
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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Realidade desperta

.

Sábios olhos de criança
sob pálpebras adultas
jazem

Lou Vilela

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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Papéis sociais

.
Ao raiar do dia
vestem a fantasia
foliões mascarados


Lou Vilela
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domingo, 9 de novembro de 2008

Cíclico

.
A_massa
assa
cria casca
- bolo de noz

Lou Vilela

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Homem, quem és?

.

O que usurpa a natureza
O que dizima espécimes
O produto do meio
O palhaço social
A lágrima seca
A esperança agonizante
A felicidade fragmentada
A sobrevida

Lou Vilela

domingo, 2 de novembro de 2008

Razão


.
A jornada dialética

do ser patético
num mundo epilético

Lou Vilela
.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Trama de nós

.

num átimo
de tempo
a sós
novelo
de pelo
sem cós
desata
no ato
o(s) nós


Lou Vilela

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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Filho da terra



Filho da terra

Sua mãe agoniza
Você tripudia
Rascunha o epitáfio

Lou Vilela
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domingo, 5 de outubro de 2008

Noites prateadas

.

Para Iago


Riso iluminado
Pele trigueira
Olhos de jabuticaba
Alma aventureira

Metamorfose em andamento
Longe já estão os cueiros
Aos tropeços caminha
Trilhando seus canteiros

Não tenho a solução
Para todo mal que o assola
Cuido da fundação
A vida será sua escola

Nas noites enluaradas
Interrogações a bailar
Cumplicidade, brincadeiras
Até a fadiga chegar

Aninha-se no travesseiro
Cerra os olhos cansados
Relaxa o corpo, aquieta-se
Boa noite, filho amado!

Quando um dia eu estiver ausente
Sinta o coração acarinhado
Lembre das noites prateadas
E do amor compartilhado

Lou Vilela
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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Iluminação

Os atomos e o Homem (Diana Gaspar)



Quando não entendo
escrevo
materializo fantasmas

Quando escrevo
questiono-me
enfrento sombras


Quando me questiono
liberto-me
multiplico-me


Quando me liberto
não me caibo
sou do todo, o átomo



Lou Vilela

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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Leitura incerta


Caminhada de outono
Foto: Sérgio Vasco




Neste momento patético
de um eu circunspeto
apenas sou

aquilo sem definição
sentido vão?
Ausente estou

Redemoinho
mergulho sem fundo
controverso mundo

Questões em neon
respostas sem tom
Avanço!

Essência analfabeta
Leitura incerta
Qual fim?


Lou Vilela
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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Prenhez


O pensador
Auguste Rodin


parir ou não
que me importa?
a minha prenhez não é uterina
lambuza-me o falo emocional
a fecundar-me ideias


Lou Vilela
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