sábado, 2 de agosto de 2025

Luto(s)

Gentes em luto,

em cura,

em surto.

Logo eu — pronta a suportar,

a oferecer um ombro, um abraço, uma escuta,

a me desdobrar —

precisei, eu mesma,

recalcular:

o tempo,

o espaço,

o ser.

Urge a vida a se mover.

Calo,

e o silêncio ecoa

em paredes tão próprias

e já definidas.

Quisera eu assim.

Mas nada é para sempre —

nem as paredes.

Calo,

e o silêncio reverbera.

Já não há mais paredes.

Há algo orgânico,

amorfo,

assíncrono.

Há passado,

presente,

desejo —

um relicário que carrego

pra não esquecer.

Mas, para ser,

há de se morrer mil vezes.

Desreconhecer.

Luto(s): do outro, de si, do status quo.

— Lou Vilela



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